Mas e a educação, a escola e o professor? Por que nada disso parece afetá-los ou mesmo lhes dizer respeito?
Deixemos de lado, por
um momento, a educação não-formal, e
concentremos nossa atenção na escola e no seu principal agente, o professor.
O que acontece com a escola, que faz com que, apesar de virtualmente todas as
outras áreas
de nossa sociedade estarem se transformando, em grande parte em função da introdução de tecnologia,
especialmente de computadores, a escola continue a operar como se nada disso
lhe fosse relevante, tornando-se uma ilha não-tecnológica num mar de
tecnologia?
Se é
função da educação preparar o indivíduo para uma vida
plena (em que faça bom uso até de seu tempo livro,
do qual terá cada vez mais), o cidadão para o exercício de seus direitos
e deveres, e o profissional para o trabalho, se é inegável (como acabamos de
ressaltar) que a sociedade em que o indivíduo vai viver,
exercer a sua cidadania e trabalhar está permeada pela
tecnologia, e se é fato que a escola é
o
principal agente da educação na sociedade, parece lógico esperar que a
escola estivesse extremamente interessada e envolvida nesses desenvolvimentos,
pois, doutra forma, correria o risco de rapidamente se tornar uma “fá
brica de
obsoletos” (que
é o
que o jornalista Gilberto Dimmenstein diz que ela já
é 18).
Por que a escola
parece sempre tão disposta a resistir a mudanças?
Mesmo numa sociedade
apenas "emergente" como a nossa, não ainda plenamente
desenvolvida, a tecnologia entrou sem maiores resistências e sem grandes
dificuldades em quase todas as áreas em que normalmente se divide a
sociedade. Hoje temos produção industrial mediada pela tecnologia, comércio mediado (ou pelo
menos sustentado) pela tecnologia, serviços bancários mediados pela
tecnologia, atendimento médico mediado pela tecnologia, comunicação mediada pela mais
alta tecnologia, e até
entretenimento
mediado pela tecnologia. No entanto, estamos ainda muito longe de uma educação mediada pela
tecnologia — pelo menos no que diz respeito à
educação formal ministrada
pela escola.
O que causa
perplexidade é que a educação, que deve, entre
outras finalidades, preparar o indivíduo para viver uma
vida pessoal rica, para atuar de forma responsável como cidadão, e para exercer uma
profissão
de forma competente e recompensadora, não pode, numa
sociedade como a nossa, alcançar esses objetivos
sem dominar a tecnologia.
Nossas casas possuem
cada vez mais tecnologia, votamos com a ajuda da tecnologia, acedemos a informações através da tecnologia, participamos
de debates através da tecnologia, nos comunicamos através da tecnologia, e
trabalhamos (quase em qualquer área) com o indispensável apoio da
tecnologia. Diante disso, não devia nossa educação formal, escolar,
estar extremamente preocupada com a possibilidade de que também a educação pudesse, e, talvez,
devesse ser mediada pela tecnologia? Mesmo deixando de lado nossas instituições financeiras,
nossas indústrias, nossos escritórios,
nossos centros
comerciais, por que o cuidado com a saúde de nosso corpo é, hoje, tão dependente da
tecnologia, e o cuidado com a saúde de nossa mente, de
nossas emoções, de nossas relações pessoais, que deve
ser objeto da educação, é tão pouco afetado por
ela?
A resposta nada tem
que ver com a natureza da educação — muito pelo contrário 19. Teria algo que ver,
então,
com os profissionais da educação? Seriam os educadores mais resistentes a
inovações
(isto é,
mais conservadores) do que, por exemplo, os médicos? Parece que sim
— não no sentido político (onde geralmente
os educadores se pretendem avançados e progressistas), mas, sim, no sentido
de tentar conservar a sua prática tão inalterada quanto
possível,
procurando argumentos de todos os tipos (inclusive racionalizações) para justificar o
seu conservadorismo.
Se não são os
educadores, o que explica o atraso da educação escolar no que diz respeito ao uso da tecnologia — em especial quando a tecnologia hoje é tão
relevante e útil para o
aprendizado, e, assim, para a educação?
Note-se, ao mesmo tempo, que, fora da escola, a educação (que chamamos de não formal) não parece tão
presa a objetivos, métodos e técnicas tradicionais. Ali o uso da
tecnologia parece acompanhar mais de perto o que acontece no restante da
sociedade.
As tecnologias de informática têm sido chamadas de extensões de nossa mente —
diferentemente das outras tecnologias,
que ampliam nossa capacidade sensorial, motora, ou muscular 20. Nossa era tem sido chamada, como
vimos, de “era da informação” e
de “era do conhecimento”, porque a tecnologia que a caracteriza
é extremamente relevante para o acesso à informação e a construção
do conhecimento. A informação e o
conhecimento estão rapidamente
se tornando o principal meio de produção,
através do qual nossa sociedade encontrou
uma nova forma de gerar riquezas. E as tecnologias da informática estão intrinsecamente ligadas a esses desenvolvimentos.
É por isso tudo que causa perplexidade
ver a educação (formal, escolar) ainda tentando
dar, hoje, passos inseguros nessa área
(passos esses que começou a ensaiar
há mais de 15 anos no Brasil), enquanto
as outras áreas da sociedade, mesmo aqui no
Brasil, já
alcançaram maioridade e têm desempenho que se equipara ao dos países mais desenvolvidos.
Texto retirado de:
CHAVES, Eduardo o c. Tecnologia e
Educação: O Futuro da Escola na Sociedade da Informação. Mindware editora.
Campinas, SP. Dez. 1998.
veja tambem
ResponderExcluirhttp://escolaamaral.blogspot.com.br/
Muitos profissionais da educação possuem certo receio de lidarem com os meios tecnológicos, muitos por não saberem lidar com as novas tecnologias, alguns possuem somente o básico de informática e acreditam que não conseguem processar as informações.Deve-se ampliar o conceito que muitos possuem de que o computador é algo difícil, e inserir como ele ajuda na interação aluno e professor, chamando a atenção do educando nos processos educacionais de aprendizagem,pois o mundo tecnológico é uma realidade diária dos alunos, afinal eles convivem nos meios como facebook, google, wikipédia, que são nomes de língua estrangeira, mas que fazem parte da linguagem de muitos jovens, por tal o educador precisa aprimorar seus conhecimentos e perceber a importância da infomática e o meios de rede sociais que irá ajudar a entender melhor o seu aluno.
ResponderExcluirMuito boa reflexão. O professor não pode ficar alheio ao que está acontecendo na sociedade. Se ele prepara o aluno para exercer a cidadania em uma determinada sociedade, como vai fazer se não acompanhar as mudanças que estão acontecendo na sociedade que a escola está inserida.
ExcluirO que fazer para que esse professor perca esse "medo" do computador?
AS MUDANÇAS TEM QUE COMEÇAR PELOS OS PENSADORES E DEPOIS PELOS ALUNOS
ResponderExcluirQuem são esses pensadores, e como inicar?
ExcluirMuitos professores tem receio de usar a tecnologia, geralmente os antigos. É muito provável que as próximas gerações usem a tecnologia no ensino, é importante também o investimento e a manutenção dessa tecnologia.
ResponderExcluirSomos conhecidos hoje com a geração tecnológica, dessa forma, não há possibilidade de buscarmos alguma maneira de motivar esses professores a se inclueirem no que a sociedade "exige" hoje?
ExcluirE o papel da escola?